António Roma Torres


ESCURA PRIMAVERA                    

Edições Afrontamento

2012, editado em 2018 




PRÉMIO DE TEATRO MARCELINO MESQUITA 2018

SOPEAM (Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos)



Escura Primavera é uma adaptação de Antígona, de Sófocles, situada no ambiente de uma Clínica Psiquiátrica.

Seguindo a leitura proposta pelas psicanalistas Ginette Rainbault e Caroline Eliacheff em Les Indomptables, Figures de la Anorexie, Antígona é uma paciente anoréctica em cujo retrato confluem textos de figuras da história e da cultura provavelmente afectadas por esta doença, como são Santa Catarina de Siena, Ellen West, Simone Weil e a beata Alexandrina Maria da Costa de Balazar, enquanto Polinices, que na tragédia grega está morto no início da acção, é um doente psicótico para cuja composição se usaram textos de Antonin Artaud e do personagem Johannes no filme de Carl Th. Dreyer, A Palavra. Paralelamente Creonte e Hémon são psiquiatras de diferentes gerações que encarnam os dilemas desta especialidade médica entre as descobertas científicas que permitem reduzir o caos interior e a necessidade de compreensão das dimensões mais complexas do ser humano.


 

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CREONTE - O caos é o nosso inimigo e destrói-nos.


ANTÍGONA - Nasci para amar e não para ter inimigos.


CREONTE - Ama se quiseres. Mas eu sou responsável. Não deixarei que nos governem as paixões.


ANTÍGONA - Quem quer que pegue na espada perecerá pela espada. E quem quer que não pegue na espada ou a abandone perecerá na cruz.


(I Acto)






POLÍNICES (irónico) - Ser e não ser. Hamlet era esquizofrénico? Que diz o seu DSM? Dark Side of Man.


HEMON - Hamlet era uma criação de Shakespeare.


POLÍNICES - E eu sou criação de quem?


HEMON - Tu és o teu criador.


POLÍNICES - Criador ou ser criado. Shakespeare tinha um público que apreciava o belo.


(II Acto)

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Em 9 de Dezembro de 2021 no V Congresso Internacional sobre a Recepção dos Modelos Antigos no Teatro Ibérico, Ibero-Americano e Francófono, em Clermont-Ferrand (França), sobre o tema Identidades: Representações, Construções e Desconstruções, foi apresentada uma comunicação intitulada: 

Antígona en una Clínica Psiquiátrica: un mosaico de citas y referencias en Escura Primavera de A. Roma Torres (2018) por Carlos Morais, doutor em Literatura Grega da Universidade de Aveiro.


Publicado em L'Antiquité en scène. De la tragédie grecque à la performancetextes réunis et présentés par Stéphanie URDICIAN et Rómulo PIANACCI Caesarodunum LVI-LVII bis, Clermont-Ferrand, Centre de Recherches André Piganiol Présence de l’Antiquité, 2024: 

Carlos MORAIS, Antígona en un psiquiátrico: un mosaico de citas y referencias en Escura primavera (2018), de A. Roma Torres,  233 - 256

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Sessões de apresentação do livro:


em 27 de janeiro de 2018 no XIII Congresso Nacional de Psiquiatria, em Vilamoura, apresentado por Pedro Varandas


em 12 de maio de 2018 na Livraria Flâneur, no Porto, apresentado por Francisco Luís Parreira

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Antígona decide morrer, de modo a evitar a sua transformação em adulta para a qual, presumivelmente, a vida se degradará à condição de um hábito de onde toda a paixão está ausente. Antígona não quer portanto crescer nem dizer sim à vida comum representada pela normalidade defendida pelo doutor Creonte. Antes faz a afirmação plena da excepção da doença, tal como já a Antígona de Sófocles fizera a afirmação plena da excepção do divino. É por isso que, aos olhos do doutor Creonte, ela foi feita para morrer, tal como em Sófocles temos a sensação de que Polinikis foi para ela meramente um pretexto. O que importa para ela não é tanto o corpo do irmão — ou, na Escura Primavera, a relação que a liga ao paciente Polinikis — mas o próprio acto de recusar, o próprio acto de morrer. E isto é concordante com a própria ambiguidade de Sófocles. É muito evidente ao lermos a Antígona original que a mais difícil questão que nos é colocada é: o que quer Antígona realmente? Ao dizemos que ela quer morrer, dizemos que ela está possuída pela pulsão de morte. Aqui há que ter cuidado para não confundir isso com um desejo. Esse conceito, que devemos a Freud, costuma ser muito mal interpretado. Ela é uma pulsão inconsciente, de origem biológica e talvez celular, completamente separada da vontade e do desejo. Perguntar assim o que quer Antígona é, no fundo, perguntar o que quer a pulsão de morte. Uma das coisas comoventes na peça é que o autor transporta essa questão para um domínio aplicável; por via da sua prática profissional, é evidente que se confrontou com Antígonas de carne e osso, com adolescentes "contrárias à geração", que é o significado grego do nome Antígona, e que esse confronto gerou a reflexão "trágica" sobre uma pulsão que talvez nenhum diagnóstico e terapia seja bastante a circunscrever. 

Francisco Luís Parreira
(nota de leitura a partir da qual foi feita a apresentação do livro)   

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em 19 de maio de 2018 na Livraria Ler Devagar em Lisboa, apresentado por Luísa Branco Vicente; 


em 25 de maio de 2018 no 4º Congresso Pelos Mares da Língua Portuguesa, Universidade de Aveiro, apresentado por Carlos Morais (Livro de Resumos, pg.18);


 

em 15 de julho de 2018 às 21:30 na Feira do Livro de Viana do Castelo, Jardim Público, Avenida Marginal no Espaço Ponto de Encontro, apresentado por Aníbal Fonte


Nas Leituras no Mosteiro (Centro de Documentação do Teatro Nacional São João) dedicadas à dramaturgia portuguesa como é tradicional no último mês do ano, em 17 de Dezembro de 2019, António Roma Torres foi um dos dramaturgos escolhidos, tendo sido lido o II Acto de Escura Primavera.

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Escura Primavera é citada numa ampla revisão de diferentes variações de Antígona por Renato Cândido da Silva em O Trágico em Trânsito: Reescrituras de Antígona em Jorge de Andrade e Ângela Linhares, tese de mestrado na Universidade Federal de Ceará, p. 12  (Fortaleza, 2019) e em O Primeiro Rastro da Filha de Édipo na Dramaturgia Brasileira: A Antígona (1916) de Carlos Maul, Travessias Interativas, n. 10, v. 20, p. 103 (2020).


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